OpenDSS e o estudo de sistemas elétricos de potência

O OpenDSS é uma ferramenta virtual muito versátil e de grande utilidade para o estudo de sistemas elétricos de potência, pois nele é possível analisar e simular diferentes situações que acomete uma rede, assim como obter as suas diferentes respostas. Nesse texto serão apresentados maneiras que ele pode ser utilizado para fins de pesquisa de uma determinada rede ou apenas para a análise pontual de um determinado evento.

O OpenDSS foi originalmente criado em 1997 por Roger Dugan e Thomas McDemontt como Distribution System Simulator para solucionar os desafios da área de distribuição de energia na época, sendo uma das pioneiras nesse quesito. Em 2004 a empresa Electric Power Research Institute (EPRI) comprou os direitos do programa e o distribuiu em código aberto com intuito de que mais pessoas pudessem colaborar com o seu desenvolvimento, tendo seu nome alterado para o que ele é atualmente: OpenDSS

Sua implementação era inicialmente feita pelas linguagens Delphi e C++, no entanto, com o envolvimento da comunidade e seu código open-source permitiram que o OpenDSS fosse acessível e programável a partir de outros softwares através da Interface Component Object Model (COM). Com essa interface você pode escrever seu código no RStudio ou Matlab e conseguir projetar o circuito e suas respostas no OpenDSS, aumentando a versatilidade do programa.

Além desses exemplos, uma maneira que se tornou muito popular foi o controle utilizando a linguagem Python, sendo feita possível com pacotes a serem instalados tanto no OpenDSS quanto no seu ambiente de desenvolvimento integrado (IDE) em Python, que são a interface py-dss-interface e e a extensão OpenDSSDirect.py.


Circuito exemplo IEEE 13 barras.

Acima está apresentada uma rede de exemplo que vem junto do programa, o IEEE 13 Barras, onde nele é possível determinar alguns elementos. A linha verde simboliza o gerador, as linhas cinzas são transformadores e os círculos vermelhos são pontos de conexão da rede com outras linhas. Os círculos azuis são as cargas que serão entregue a potência dessa rede.

Das funcionalidades, vai do básico, como verificar níveis de tensão e corrente em certos pontos, até o mais avançado, como estudo de curtos circuitos e de fluxo de potência. Dos curtos, utilizando o comando fault study, peca somente nos curtos bifásicos-terra, porém ele analisa as faltas simétricas (trifásicas), monofásicas e os curtos fase-fase (bifásico). Do fluxo de potência, é possível analisar como a rede se comportaria com a instalação de novos elementos, como geradores eólicos e fotovoltaicos, sendo possível estudar e testar a viabilidade da alocação dessas diferentes fontes em uma rede específica. 

No quesito de modelagem, o usuário pode criar novas redes ou criar uma rede de distribuição real de uma cidade, bairro ou região que desejar, apenas programando na linguagem desejada e implementando com o programa. 

Em conclusão, o OpenDSS é uma ferramenta muito versátil que permite estudar os diferentes aspectos que uma rede elétrica de distribuição de energia pode apresentar, sendo muito importante desde sua criação para os pesquisadores dessa área. Existem muitas mais funcionalidades que o programa possui que não seria possível citar todas aqui, ficando a critério do leitor para instalar e experimentar, desenvolvendo também a comunidade de estudiosos dos sistemas de distribuição elétrica.

REFERÊNCIAS 

  • RADATZ, Paulo Ricardo. Modelos avançados de análise de redes
  • elétricas inteligentes utilizando o software OpenDSS. Universidade de São Paulo–USP, Escola Politécnica.

A importância do fator de potência para a distribuição de energia

A regularização do fator de potência tem se mostrado um dos grandes desafios da modernidade pelas concessionárias de energia quando se trata da transmissão de energia elétrica para seus consumidores. O fator de potência é uma medida de suma importância para ter certeza de que todo o sistema está operando com a qualidade devida e não ocorra complicações com os equipamentos da população ou com os geradores.
Para isso, existe a implementação da correção do fator de potência para que o mesmo se mantenha dentro dos parâmetros ótimos de qualidade. No entanto, para entender essa medida e como o fator de potência afeta o sistema elétrico de potência, precisamos entender o que é o fator de potência.

O que é?

Quando pensamos nos sistemas elétricos de potência e suas redes de distribuição, é comum depararmos com equipamentos que apresentam seu consumo em Watts (W) ou Volt-Ampere (VA), ambas sendo medidas de potências. A razão desses diferentes tipos de potência está relacionado com o fato de que as cargas que receberão a energia elétrica são geralmente resistivas e indutivas, ou seja, motores e enrolamentos de fios, como geladeiras, ares-condicionados e a maioria dos eletrodomésticos e maquinários industriais.

Essa característica das cargas residenciais e industriais, quando sob influência de uma tensão de forma senoidal com frequência de 60 Hz, como é o padrão nacional, são tratadas na forma de uma impedância que dissipa potência complexa (S). Tanto a impedância quanto essa potência S são expressas por números complexos na forma a+jb.

Temos então que a potência que é consumida pelas unidades populares possuem uma parte em número real e uma parte em número “imaginário”, parte imaginária essa que está relacionada na dissipação em forma de campo magnético e nas perdas de energia. Essa potência complexa é comumente apresentada com o triângulo de potências.

Fonte: Nilsson e Riedel

Onde a potência média P é medida em watts (W) e é a potência de consumo direto, a potência reativa Q medida em volta-ampére reativo (VAR) é a potência relacionada com a parte imaginária do número complexo e está diretamente relacionado com as cargas indutivas, e por último a potência aparente é o módulo dessa potência S e é medido em volt-ampére (VA).

O fator de potência nada mais é que o cosseno desse ângulo theta (θ), onde fazendo uma análise trigonométrica podemos perceber que a potência média é o a potência aparente vezes o cosseno do ângulo

P = |S|.cosθ

E portanto, é factível verificar que ao dividirmos a potência média pela potência aparente, cujo a qual consegue transmitir informação tanto da média quanto da reativa, temos como resultado o cosθ = fator de potência. Dessa forma, determinamos que o fator de potência é na realidade uma proporção de quanto da potência está sendo eficiente para o sistema como um todo.

Impactos e desafios

Sabendo o que é o fator de potência e qual o seu significado, pode-se então discutir seus impactos na rede de distribuição, sendo uma delas já mencionadas que é a determinação da qualidade de consumo dos eletrodomésticos e maquinário. Para servir de exemplo, é preciso saber que o padrão nacional do Brasil é que o sistema opere com um fator de potência de 0,92 para cima, ou seja, com 92% de eficácia.

Um dos desafios que a modernidade e o avanço tecnológico apresenta é o aumento das cargas indutivas nas residências e outros centros de consumo de energia elétrica, já que a tendência é que mais instalações adquiram novos motores e cargas indutivas como as mencionadas acima.

A forma que esse ângulo impacta o sistema e pode danificar os equipamentos e os geradores é que esse ângulo entre as potências média e reativa é determinado pela defasagem entre a corrente e a tensão nas cargas, haja visto que em indutores há um atraso de corrente em relação à tensão. Se essa defasagem se mantiver e por aumentando com o tempo, ao retornar à unidade geradora fora de sincronia com a máquina rotativa no gerador, pode causar uma dessincronização da mesma e com isso o sistema elétrico inteiro da região pode se tornar instável e danificar as propriedades dos consumidores.

Correção do fator de potência

Com isso, a medida que é aplicada para que não haja essa defasagem atenuada entre tensão e corrente é a inserção de um banco de capacitores em paralelo com a unidade de distribuição da energia elétrica, seja na subestação ou em alguns transformadores. A maneira como esse banco de capacitores funciona é devido à impedância que o capacitor representa para uma fonte senoidal, sendo ela o número complexo puramente imaginário com fase -90º, em comparação com a impedância do indutor que representa uma impedância com ângulo 90º positivo.

Fonte: Alexander e Sadiku

Dessa forma, é possível notar que a potência complexa dessas duas cargas distintas terão potências reativas com sentidos contrários, e a lógica é que ao adicionar as duas em paralelo, ou seja, a tensão nas duas será a mesma, é que a medida Q total seja diminuída e dessa forma seja feito o controle do ângulo entre as potências.

Conclusão

Foi demonstrado como o fator de potência necessita de constante melhorias para acompanhar a modernização da sociedade e sua constante evolução de equipamentos residenciais e industriais, para que então toda a rede de distribuição opere sem que haja prejuízo para o consumidor e nem para a concessionária.

À partir dessa ideia de manter o fator de potência, ou proporção de eficiência de consumo de potência das cargas dentro de um patamar de qualidade para que o funcionamento se mantenha operante é que surge a medida de corrigir o fator de potência com um banco de capacitores para que haja uma diminuição na potência reativa e com isso, perdas e dissipação da energia em campo magnético.

Referências

NILSSON, James W; RIEDEL, Susan A. Circuitos Elétricos. 10ª Edição. Pearson, 2016.

FERNANDES, Sthefania. Correção do fator de potência. Embarcados, 26 de dezembro de 2022. Disponível em <https://embarcados.com.br/correcao-do-fator-de-potencia/>.

ELÉTRICA EM LIMITES. Como é feita a correção do fator de potência de uma instalação elétrica? (passo-a-passo). Youtube, 16 de abril de 2023. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=eYloMiZRJ4E>.

O efeito corona e suas implicações para os sistemas elétricos de potência

O efeito corona é o fenômeno em que um sistema elétrico operando em altas tensões gera um campo elétrico que consegue romper a rigidez dielétrica do ar atmosférico ao redor de suas linhas de transmissão, comumente em campos elétricos de magnitude de 30 kV/cm. Esse rompimento gera um ruído característico e um brilho roxo ao redor dos componentes, além de uma série de consequências para o funcionamento do sistema e neste texto serão abordados a causa, as vantagens e desvantagens desse fenômeno e por fim como é possível mitigar esse efeito e manter o sistema elétrico operando corretamente.

Efeito corona presente em isoladores de uma subestação.
Fonte: https://pt.linkedin.com/pulse/efeito-corona-na-eletricidade-lucas-almeida-barroso.

Causa

Como foi citado anteriormente, um campo elétrico na faixa dos 30 kV/cm já seria o suficiente para causar essa quebra do limite dielétrico, porém, a tensão média de operação de subestações e linhas de transmissão se dá acima dos 100 kV, então por que nem sempre esse efeito é visível? 

O rompimento da rigidez dielétrica do ar se dá quando o equipamento elétrico alcança a chamada tensão disruptiva, onde não é só a tensão de operação que influencia, mas também as impurezas (poeira e sujidades), a umidade atmosférica e o arranjo físico desses componentes. 

O brilho característico do efeito ocorre em decorrência da ionização do oxigênio presente no ar, que uma vez submetido à tensão disruptiva causa uma reação em cadeia onde o ar conduz corrente e com isso o oxigênio acaba por ser ionizado, havendo o surgimento do gás ozônio e por isso as faíscas possuem a coloração roxa-azulada, cor característica do ozônio.

Processo de ionização do gás oxigênio em ozônio.
Fonte: https://naturaltec.com.br/ozonio-desinfeccao-agua/ozonio_tratamento_e_desinfeccao_de_agua_com_ozonio_tratamento_de_agua_e_efluentes_com_ozonio_-_2017-06-29_18-24-58/.

Fatores que influenciam o efeito

Os fatores que podem influenciar um sistema elétrico para que ocorra o efeito corona são:

  • Frequência: Um condutor operando em uma frequência elevada aumenta as chances de ocorrer a tensão disruptiva;
  • Umidade: As condições atmosféricas elevam as chances de ocorrer o efeito corona, visto que a umidade pode aumentar a condutibilidade do ar;
  • Espessura dos condutores: Em uma linha de transmissão, se o raio de seu fio é aumentado, diminui-se a ocorrência do efeito corona, haja visto que aumenta a condutibilidade da linha o que impede da corrente ser conduzida para o ar;
  • Espaçamento dos condutores: A distância de uma linha para a outra também influencia o surgimento do fenômeno, haja visto que muitas linhas próximas aumentariam a intensidade do campo elétrico naquele espaço.
  • Condições físicas dos condutores: As condições da superfície dos condutores, como poeiras, irregularidades e poros podem aumentar a probabilidade de acontecer o efeito corona, já que superfícies irregulares causa acúmulo de cargas e com isso facilidade para haver a ruptura da rigidez dielétrica do ar.
  • Altitude: A altitude onde é instalada os condutores influencia no surgimento do efeito corona dependendo das condições do ar, já que quanto mais alto tende-se a ter um ar mais rarefeito, tendo uma rigidez dielétrica menor.

Consequências

O efeito corona apesar de ser um fenômeno visual e auditivo, também traz consequências positivas e negativas para os condutores onde ocorre, entre elas:

  • Vantagens: Devido ao ar ao redor do condutor se tornar um condutor também, acaba por aumentar o diâmetro de condutividade da linha de transmissão, causando assim uma diminuição na variação de potência transmitida. Outra vantagem decorrente desse aumento do diâmetro do condutor é a diminuição do risco de  sobretensão.
  • Desvantagens: As desvantagens do efeito corona são variados, sendo o principal dele a deterioração do condutor, uma vez que há a liberação do gás ozônio que é corrosivo. Outra desvantagem é uma perda de energia que está sendo distribuída de taxas entre 0,1% a 3%, afetando a eficácia da transmissão. E por fim, o ruído gerado pelo efeito pode interferir em sistemas de radiofrequência, prejudicando os sistemas de comunicação em suas imediações. 
Efeito corona afetando linhas de transmissão.
Fonte: https://live.staticflickr.com/65535/50977459108_62f7448907_b.jpg.

Métodos de redução do efeito

O melhor jeito de reduzir a ocorrência do efeito corona é no planejamento do sistema, escolhendo os materiais, a altitude e as dimensões corretas dos condutores e das linhas de transmissão. No entanto, quando mesmo assim pode haver a sua ocorrência, o principal método de contenção desse efeito é a partir da implementação dos anéis anti-corona.

O anel anti-corona tem função de criar uma equipotencialização nos isoladores e dessa forma é possível diminuir o acúmulo de carga em uma extremidade deste, evitando assim o acontecimento de um campo elétrico intenso que cause o efeito, fazendo então que o efeito ocorra no anel e a ionização do oxigênio assim como a dissipação da energia só ocorra no mesmo. O seu funcionamento é melhor visualizado na imagem a seguir:

Ação de um anel anti-corona em uma cadeia de isoladores.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=DNh9qUF5-pM.

Conclusão

 O efeito corona é algo a ser considerado quando falamos na implementação de um sistema elétrico de potência, pois é um fenômeno que pode afetar não só as linhas de transmissão, mas também isoladores em subestações e transformadores. 

As consequências que esse efeito pode causar para o condutor, apesar de haver alguns positivos, em sua maioria são negativos e pode acarretar na piora do funcionamento do sistema e na qualidade do material, sendo assim necessário ser feito o arranjo correto das configurações físicas e de operação para que este efeito não ocorra. Sendo assim, havendo a apropriada preparação para a sua mitigação, o funcionamento da distribuição poderá continuar inalterada e sua eficácia mantida.  

Referências

KHAN, Waseem. How The Corona Effect Can Influence the Overhead Transmission Lines. 2018. Disponível em: <https://electronicslovers.com/2018/07/corona-effect-can-influence-the-overhead-transmission-lines.html>. Acesso em: 8 de maio de 2024.

REHMAN, Abdur. What is the Corona Effect in Transmission Lines? How Engineers Overcome it?. 2021. Disponível em: <https://www.allumiax.com/blog/what-is-the-corona-effect-in-transmission-lines-how-engineers-overcome-it>. Acesso em: 8 de maio de 2024.

ELÉTRICA SEM LIMITES. Efeito corona em instalações de alta tensão. Youtube, 23 de novembro de 2022. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=DNh9qUF5-pM>. Acesso em: 13 de maio de 2024.