Autor Tiago Carlos

Utilização de relés de sobrecorrente no Sistema Elétrico de Potência

Sistema Elétrico de Potência (SEP)

O Sistema Elétrico de Potência (SEP) representa uma complexa rede interconectada, essencial para assegurar o fornecimento ininterrupto, seguro e conforme os padrões estabelecidos de energia elétrica, atendendo às exigências de consumidores distribuídos em diversos locais. Esse sistema, composto por geradores, linhas de distribuição, linhas de transmissão e subestações de energia elétrica, desempenha um papel crucial na garantia da demanda energética solicitada.

Linhas de Transmissão de Energia Elétrica.
Fonte: pexels. Disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/alvorecer-amanhecer-aurora-natureza-5850492/

Para manter a integridade e a eficiência desse sistema, é imprescindível contar com um sistema de proteção robusto e confiável, equipado com dispositivos capazes de monitorar e intervir quando necessário no SEP.

Um desses dispositivos fundamentais é o Relé de Proteção. Sua função primordial consiste em monitorar diversas grandezas elétricas, como tensão, corrente e frequência, entre outras. Ao detectar condições anormais de operação, tais como sobrecargas ou curtos-circuitos, o relé emite sinais ou comandos para desligamento parcial ou total do sistema por meio dos disjuntores. Essa ação imediata visa evitar danos aos equipamentos e impedir a propagação de perturbações para outras partes do SEP. Assim, o Relé de Proteção desempenha um papel vital na salvaguarda da integridade e na preservação da operacionalidade do Sistema Elétrico de Potência.

Relé de Proteção Schweitzer Engineering. Disponível em: https://www.google.com/imgres?q=rel%C3%A9%20de%20prote%C3%A7%C3%A3o%20de%20sobrecorrente&imgurl=https%3A%2F%2Fselinc.com%2FuploadedImages%2FWeb%2FProducts%2FImages%2F421.png%3Fn%3D63574914008000&imgrefurl=https%3A%2F%2Fselinc.com%2Fpt%2Fproducts%2F487B%2F&docid=vtiHlMD8OLfABM&tbnid=aKOzeCEkA-D4HM&vet=12ahUKEwjZ6MfihMGGAxU6rpUCHXLKJLcQM3oECHYQAA..i&w=1200&h=859&hcb=2&ved=2ahUKEwjZ6MfihMGGAxU6rpUCHXLKJLcQM3oECHYQAA

Relé de Sobrecorrente

O Relé de Sobrecorrente é utilizado na proteção de linhas de transmissão, linhas de distribuição, transformadores e motores contra sobrecargas e/ou curto-circuitos elétricos a partir do monitoramento da corrente elétrica do sistema, enviando sinal para abertura de um ou mais disjuntores quando for detectado uma corrente maior ou igual ao valor de corrente ajustado previamente, podendo ser essa atuação de maneira instantânea ou temporizada (50/51). O relé de sobrecorrente pode ser conectado ao sistema de maneira direta, tendo sua bobina conectada em série com o circuito, ou de forma indireta através de dispositivos abaixadores, como os transformadores de correntes (TC).

Uma das curvas características dos relés de sobrecorrente é a de tempo definido, que estabelece um intervalo de atuação para um determinado valor mínimo de corrente. Quando o sistema atinge ou excede esse valor mínimo de corrente e o tempo definido se esgota, o relé é ativado. Além disso, outra curva característica importante é a tempo dependente, onde o tempo de atuação do relé varia de forma inversamente proporcional ao valor da corrente. Essas variações podem ser classificadas em três grupos: Normalmente Inversa (NI), Muito Inversa (MI) e Extremamente Inversa (EI).

Curvas Características normalmente inversa (NI), muito inversa (MI) e extremamente inversa (EI) [1].

Unidade Instantânea (50) e Temporizada (51)

Os Relés de Sobrecorrente são compostos por duas unidades: a unidade instantânea e a unidade temporizada. Nos diagramas de Proteção do Sistema Elétrico de Potência (SEP), essas unidades são representadas pelos números 50 e 51, respectivamente. Quando os relés monitoram a corrente para a proteção das fases, as unidades são descritas como 50 e 51 de fase. No caso da proteção do neutro ou terra, as designações são 50 e 51 neutro e terra, respectivamente.

É importante ressaltar que, com o avanço tecnológico e a implementação dos relés de sobrecorrente digitais, é possível incorporar várias funções de proteção em um único relé, tornando-o um relé multifunções.

Relé de Sobrecorrente schneider. Disponível em: https://download.schneider-electric.com/files?p_Doc_Ref=PM107252&p_File_Ext=.JPG

A unidade instantânea opera em uma fração de tempo da ordem de milissegundos. Os relés eletromecânicos não oferecem a possibilidade de ajuste para controlar esse tempo de atuação. No entanto, com o surgimento dos relés digitais, essas unidades possibilitam ajustes prévios do tempo de atuação e da corrente mínima necessária para acionar o relé.

Por outro lado, a unidade Temporizada permite ajustes das curvas de atuação e da corrente mínima de atuação. Em outras palavras, ela opera com curvas de tempo definido e tempo dependente.

Diagrama básico da proteção de sobrecorrente da saída de um alimentador primário radial [1].

Referências:

ALMEIDA, Marcos A. Dias de. Apostila de Proteção do Sistemas Elétricos. Natal: 2022.

CAMINHA, Amadeu Casal. Introdução à proteção dos sistemas elétricos. São Paulo: Edgard Blucher, 1977.

ELETROBRAS, Comitê de Distribuição. COLEÇÃO DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Proteção de sistemas aéreos de distribuição. Rio de Janeiro, Eletrobrás, 1982.

SAMPAIO, João Pedro Bezerra. Modernização de sistemas de proteção com utilização dos relés digitais (caso prático LT-04S1 – CHESF). Recife: O Autor, 2014.

BARBOSA, Daniel. Sistemas Elétricos de Potência 2024.1. O Autor, 2024.

Proteção de inversores string contra danos causados por raios

Energia solar fotovoltaica

Levando em conta a necessidade da utilização de fontes renováveis de energia elétrica, o sistema fotovoltaico tem sido bem aceito e tem ocupado uma posição significativa na distribuição das matrizes energéticas de cada país. Segundo a ABSOLAR (Associação Brasileira de energia solar fotovoltaica), a previsão de crescimento dos sistemas fotovoltaicas seria de 42% no ano de 2023, cerca de 10 GW, chegando a 34 GW de potência instalada. Na Alemanha, em 2021, foram instaladas mais 5,3GW de potência elétrica gerada a partir de sistemas fotovoltaicos. Para o Brasil, a previsão da ABSOLAR considerou que dos 34GW de potência instalada, 21,6 GW são oriundas das gerações distribuídas realizadas em residências, prédios, propriedades rurais e 12,4 GW são das grandes usinas, também chamadas de geração centralizadas.

Com essa crescente, faz-se necessário a preocupação com a continuidade da operação e preservação dos equipamentos das usinas fotovoltaicas, haja vista o alto custo de instalação e os contratos de compra e venda de energia elétrica entres os proprietários das usinas e os consumidores. Portanto, a proteção dos inversores strings contra danos causados por raios tem sido tema relevante dentro da engenharia elétrica.

Usina solar fotovoltaica.
Fonte: PIXABAY. Disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/fotovoltaicas-c%C3%A9lulas-solares-491702/

Descargas atmosféricas em Usinas Fotovoltaicas

De modo geral, os sistemas fotovoltaicos estão sujeitos a correntes de impulso (10/350 us) e a correntes de surtos induzidas (8/20 us), ambas provenientes das descargas atmosféricas. A primeira é observada nas instalações que recebem a descarga atmosférica diretamente, enquanto a segunda é originada da indução eletromagnética na rede elétrica proveniente da descarga atmosférica.

Tanto a corrente de impulso quanto a corrente de surto induzida dispõem de uma grande quantidade de energia. Sendo assim, é essencial utilizar de dispositivos de proteção contra surtos (DPS) para garantir a vida útil dos equipamentos elétricos, por exemplo, os inversores strings utilizados nas usinas fotovoltaicas, evitando danos totais ou parciais. Dessa forma, os fabricantes dos inversores strings já integram no seu projeto de circuito interno os DPS Classe II, capazes de promover a proteção contra a corrente de surto induzida. No entanto faz-se necessário a utilização de DPS Classe I do lado c.a. (corrente alternada) do inversor.

Usina fotovoltaica.
Fonte: stonos. Disponível em: https://www.stonos.com.br/blog/qual-e-o-melhor-inversor-para-o-meu-sistema-de-energia-solar-microinversor-x-inversor-string/

Toda usina fotovoltaica deve dispor de um sistema de aterramento onde existirá apenas um eletrodo de aterramento ou um conjunto de eletrodos que deverá ser interligado eletricamente para que todos estejam no mesmo potencial. Sendo assim, ao ser atingida por uma descarga atmosférica, a usina fotovoltaica utiliza o eletrodo de aterramento para dispersar a corrente de surto para o solo, elevando o potencial do terra nesse ponto. Devido a distância entre a usina e o transformador do sistema elétrico de potência, haverá uma diferença de potencial entre os aterramentos do transformador e da usina fotovoltaica, gerando um fluxo de corrente entre esses pontos pelo caminho de menor impedância.

Esse fluxo de corrente permite que o DPS Classe I direcione o fluxo de corrente do lado c.a. para o eletrodo de aterramento, impedindo a passagem de corrente de impulso para o inversor string, uma vez que este está equipotencializado no mesmo eletrodo de aterramento da usina fotovoltaica, e o fluxo de corrente é do eletrodo de aterramento da usina para o eletrodo de aterramento do transformador do sistema elétrico de potência. Dessa forma, o inversor string está protegido contra as correntes de impulso e apenas dissipa a energia proveniente da corrente de surto induzida através dos DPS Classe II instalados no seu interior.

É crucial ressaltar a importância da coordenação dos estágios de proteção entre os DPS Classe I e Classe II, garantindo que apenas a corrente de surto induzida seja presente no interior do inversor string, enquanto toda energia proveniente da corrente de impulso seja dissipada pelo DPS Classe I. Para alcançar esse objetivo, é necessário utilizar dispositivos certificados e construídos com tecnologia adequada para assegurar funcionamento correto.

É possível encontrar DPS Classe I do tipo centelhador, cuja função é comutar tensão na faixa dos nanossegundos, reduzindo a sobretensão para a faixa de operação da alimentação do sistema. Outra tecnologia é o DPS Classe I utilizando varistor, que limita a tensão durante toda a passagem da corrente de impulso.

Dessa forma, as especificidades da proteção contra descargas atmosféricas devem ser cuidadosamente consideradas para garantir o correto projeto e instalação da proteção contra descargas atmosféricas (PDA), tanto do sistema de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) quanto nas medidas de proteção contra surtos (MPS), visando preservar os equipamentos dispostos nas usinas fotovoltaicas e assegurar a continuidade estável do sistema.

Referências:

Lopez, Maria José: Proteção de inversores de string contra danos causados por raios. Revista FotoVolt nº 63, Agosto de 2023, pág. 32-37.

ABSOLAR. Capacidade de energia solar no Brasil deve crescer 42% em 2023, a 34 GW, prevê ABSOLAR. Disponível em: https://www.absolar.org.br/noticia/capacidade-de-energia-solar-no-brasil-deve-crescer-42-em-2023-a-34-gw-preve-absolar/#:~:text=%E2%80%9CProjetamos%20um%20crescimento%20consistente%20da,administra%C3%A7%C3%A3o%20da%20ABSOLAR%2C%20em%20nota. Acesso em: 13 dez. 2023.